Leitura e memória de autos: recortes do século XVI ao século XX, de Portugal ao Brasil.
Meu doutorado foi sobre as edições e reedições dos autos do legado vicentino até o Brasil moderno. É uma pesquisa validada pelo corpo docente da FLUP, sob a orientação da professora catedrática Dra. Zulmira da Conceição Trigo Gomes Marques Coelho Santos e co-orientada pelo professor emérito Dr. Arnaldo Baptista Saraiva pela Universidade do Porto, Portugal, com financiamento Capes.
Toda a investigação é baseada em obras inventariadas em alfarrábios além do acervo vivo de testemunhos contemporâneos encontrados em espaços públicos e outros particulares, na cidade do Porto, de Lisboa, de Santarém, Évora em Portugal e no Brasil. Neste percurso, deparei-me com documentos primários, peças não editadas e algumas raras. Após inventariar 450 obras, percebi que o trajeto para o Brasil trouxe inovações peculiares justificadas com propósitos de teorias do teatro através dos tempos. Assim, construí uma rede de documentos e textos encontrados desde o teatro de Anchieta no séc. XVI até o Brasil no séc. XX.
Usei uma metodologia comparatista de impressões e reimpressões que fosse capaz de comprovar esse trajeto. Como o gênero auto é muito amplo passando por inúmeras temáticas, escolhi a de cariz religiosa mediante a expansão mercantilista, a desvendar a colonização pela propaganda do catolicismo nas peças de teatro anchietano. Os autos do jesuíta mostram aproximações e diferenças de todo legado vicentino. Diante disso, meu contributo foi demarcar categorias a partir de uma base hagiográfica de léxicos encontrados em peças portuguesas Quinhentista. Assim, poderia analisar a maneira que a leitura e a catequização ocorriam em terras brasileiras. Este trajeto foi construído a partir de um banco de dados construído com uma base compiladora, nela construí uma espécie de árvore de derivação com léxicos, categorias semânticas mostrando a teia de minha pesquisa e a organização cronológica desses fenômenos transmitidas e vividas durante a leitura e a encenação dos autos. Foram obras editadas e reeditadas que saíram de Portugal para o Brasil.
Encerro essa minuta chamando a sua atenção para as repetições de posturas e expressões encontradas lá no legado vicentino. A veiculação do status quo sobreviveu por séculos e chegou até nós pelas impressões e reedições, a prática de leitura e a memória histórica vivida no século XVI pela corte portuguesa vieram para o Brasil e permaneceu até o Romantismo.
Meu maior contributo foi mostrar como a religiosidade e todo o seu sincretismo são importantes para a cultura popular brasileira e na formação de identidades.
Pesquisadora: Elizangela Pinheiro
(2015- 2021 – FLUP / Universidade do Porto)